quinta-feira, 26 de agosto de 2010

compartilhando

Escrevi essa mensagem para alguem revoltado com a doença do pai.
Se não for proveitosa pra ele, pode ser pra mais alguém.

Temos todos o dia de nossa chegada e o dia da nossa saída. É muito importante desabafar, chorar , ficar de luto. Afinal, nossos queridos vão fazer falta pra sempre.
Ser filho único te dá a sensação de que ninguem deste mundo vai entender a dor que vc sente, como filho que perdeu o pai. Chore, grite, urre de dor. É a sua dor.Mas lembre, todos chegam e um dia vão embora. Mas o bacana de estar vivo é Saber Viver.
A doença maldita pra vc, na minha família, é chamada de bendita. É que ela nos ensinou a viver. Aprendemos a dar valor a cada minuto. Os de alegria e também os de dor. Aos nossos sentimentos, e também os dos outros.
Sou mãe, ouvi médicos por duas vezes afirmarem que meu filho não ia sobreviver ou teria vida vegetativa. VC sabe o que é ver crescer um menino tão cheio de energia e criatividade? aquele filho de futuro brilhante, e um médico dizer pra eu me preparar pra no máximo visitar esse filho por anos a fio, inerte num leito, ligado às máquinas?
Só que Aquele que consola, aquele a quem vc ignora, mas que continua nos amando mesmo assim... Ele me consolou, secou minhas lágrimas. Coloquei minha vida e a do meu filho nos braços Dele.Ainda estou aqui, no hospital com ele, faz cinco meses. Ele se recupera mais uma vez. Com 18 anos, Victor está mais uma vez reaprendendo a falar e a engolir. Sustentar o pescoço e segurar objetos.E a nossa doença bendita continua nos ensinando o valor da Vida.
Um dia vc vai entender!
Meu abraço solidário!
Rachel

Oi, querido! Desculpe! É que entendi seu "Game over, enfim o fim" como o fim do sei pai. mas que bom que ele ainda está perto de vc ainda que com algumas limitações. Assim vcs ainda tem tempo para demonstrar todo o amor que vcs tem um pelo outro. Ainda assim, ainda acho e concordo que todos temos direito de extravasar nossa angustia e dor. Estamos numa comunidade de pessoas que passam por momentos difíceis, bem dolorosos e complicados.
Temos muita coisa em comum, claro com intensidades diferentes, nuances diferentes. Mas é pra isso que serve esse tipo de comunidade, pra que mesmo nas nossas diferenças a gente possa se identificar e compartilhar. Dividir nossa dor e nossas alegrias ou descobertas.
Minha intenção não é te "converter", mas, por estarmos juntos, oferecer alguma coisa boa. Talvez uma mudança de perspectiva, encarando os percalços da vida como forma de evolução, crescimento, amadurecimento, seja no campo psíquico, social, no meu caso, acrescento o espiritual. Enfim, até no campo físico, pois sabemos todos que a raiva, a revolta, e todos os sentimentos negativos acabam por prejudicar nossa saúde física também. Ainda mais, vc que está com uma sobrecarga de atividades, tendo que cuidar do pai e da mãe, precisa estar, na medida do possível, tranquilo, saudável e equilibrado. Força, rapaz! Cuida de ti pra não pirar!

Ah! quanto a minha gravidez, eu era adolescente, não era casada e tava muito insegura de não dar conta de criar um filho. Mesmo assim consagrei, isto é, entreguei meu filho pra Deus. Não sabia que ele me daria uma criança com uma MAV mal formação arteriovenosa no tronco encefálico. Uma bombinha que estouraria 18 anos depois.
Formas de encarar problemas, pontos de vistas diferentes, atitudes diferentes. Não consigo me revoltar com isso.Me revolto mais com médicos céticos que dão sentenças de morte antecipadas, e gente que desiste da gente. Gente que só cumpre com seu dever mediocre, sem se envolver, sem ser humano.

Quanto à minha crença, acho estranhíssima a comparação com contos de fadas, pois nunca acreditei neles. Lendas e mitos são interessantes nos livros, divertidos de contar, importantes dentro do contexto cultural.
Também já duvidei da existência de um Deus criador, de uma força maior infinita e ativa. Achei difícil entender sua ação no mundo, essa coisa de vontade, permissão, livre arbítrio, justiça, castigo, amor incondicional, salvação, perdão, fé...conceitos como esses tão complexos.Como entender, perceber ou experimentar paz, amor, misericórdia, em meio ao caos da humanidade? Como que esse Deus de amor age no mundo mau?
Essas questões passam pela filosofia, pela sociologia, pela psicologia, e quantas "gias" quisermos.Nelas, acharemos conceitos, para negarmos ou afirmarmos a existência de Deus, de acordo com a nossa busca e o nosso empenho. Até mesmo de acordo com nossas necessidades, nossas conveniêcias.As vezes é cômodo e confortável acreditar que não existe Deus nenhum.Alguns, acabam por inventar um "Deus", do seu jeito, só para satisfazer suas necessidades.
Mas Deus não precisa ser inventado, e tá tão acima da nossa vã filosofia... Ele se mostra pra gente, das mais diversas formas e ocasiões.
Como o ar, que não se vê, mas que se sente. se mostra na brisa ou num furacão. Pode apagar a vela ou propagar um incêndio. Mas sabe quando mais a gente nota como ele é importante? Quando nos falta o fôlego.
A escolha é minha. Respirar enquanto me for permitido!

No amor, na misericórdia e na gratidão renovo a minha força.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Você também faz parte desse milagre!
Contribua com seu testemunho, dicas de reabilitação, recados para o Victor ou como quiser!